terça-feira, 22 de março de 2011

Perdão: passaporte para a liberdade

Em uma das rodas de TCI o tema foi sobre a dificuldade de uma participante em aceitar as mudanças na sua vida. Porém, o tema apresentado é apenas o tema aparente, o que a pessoa consegue falara. Por trás deste há o tema latente, aquele que não é dito “na lata”, de imediato, seja por resistência (mecanismo de defesa inconsciente) ou por simples vontade de não se expor. Fazendo perguntas descobrimos que a dificuldade da participante em aceitar o novo, o diferente, em sua vida iniciou, conforme ela nos contou, numa experiência do passado. Com algumas perguntas que o grupo fez, chegou-se ao tema latente a dificuldade de perdoar alguém do passado.
Ao lançar o mote perguntei a ela: Você gostaria de ouvir sobre a dificuldade em lidar com as mudanças ou em vivenciar o perdão. Imediatamente ela disse: minha maior dificuldade é perdoar. Então lancei o mote: Quem já teve dificuldade em perdoar e depois conseguiu e como se sentiu? Silêncio total!
As participantes que falaram apenas se identificavam com o tema, todos apresentavam a mesma dificuldade. Quando todos numa roda de TC vivenciam o mesmo problema fica difícil trabalhar o tema por identificação, temos que apelar para a criatividade. Como NENHUM dos 25 participantes superou o problema eu contei um caso, um exemplo de superação, de alguém que conseguiu perdoar e não ficou na beira da estrada vendo a vida passar.
A falta do perdão obstrui a vida e a pessoa não consegue “sair do lugar". Por medo do desconhecido se priva de seguir no caminho e descobrir o que há depois da curva. A resistência dela em acolher o novo, as novidades da vida é fruto do medo de se ferir novamente e não conseguir outra vez perdoar. O perdão pode ser um passaporte para a liberdade e a experiência do novo.

sábado, 12 de março de 2011

Somos como pipocas numa roda de Terapia Comunitária

A Terapia Comunitária Integrativa (TCI) é como uma panela aquecida e nós, o milho que começaria a pipocar. Na nossa roda de TCI aconteceu mais ou menos isso. Uma pessoa disse: "Eu sempre fui rejeitada pelos meus pais...minha mãe deixou meu pai, depois eles arrumaram outros parceiros e ninguém nunca me deu carinho...ainda hoje eu sou muito carente".
Quando eu perguntei ao grupo quem havia recebido carinho de menos, foi um monte de pipoca estourando na terapia. Muitos queriam falar e sei que todos tinham o que contar. Um rapaz foi criado sem o pai, que fazia falta, mas ele passou a valorizar o que ele tinha: o amor da família materna e não o que faltava.
Outra participante contou que sua mãe fora embora de casa quando ela tinha 6 meses e foi criada por madrastas, avós, madrinhas. Depois ela disse: "eu dei para os meus filhos todo o amor que eu não recebi". Falamos sobre sua resiliência, a capacidade de transformar carencia em competência.
Uma terceira fora adotada e disse que nunca recebeu amor como as irmãs, filhas legítimas. Nós ressaltamos o fato de ela ter sido amada duas vezes, pela mãe que lhe deu a vida e quis proporcionar lhe uma vida melhor e pela mãe adotiva que a escolheu como filha, para amar.
Outra contou que a mãe nunca lhe deu um abraço: "ela esqueceu até do meu aniversário. Mas este ano ela me ligou e disse que me amava". Três mulheres falaram das preferências de sua mãe ou pai por outros filhos que não elas. Uma senhora, com mais de 60 anos, emocionou-se ao lembrar que sua mãe:"até no leito de morte, amou mais o meu irmão que a mim, que sempre estive ao seu lado".
Ao final eu agradeci a pessoa que trouxe o tema, pois nos deu a oportunidade de refletirmos sobre nossas carências. Todos temos um buraco, uma falta dentro de nós, todos sem exceção! A TCI traz à luz o que está escondido para identificarmos o buraco (a falta). Descobrimos, na TCI, que outros tem uma ferida parecida. Há sempre outra pipoquinha, com a mesma dor, estourando na panela.
Se você quiser saber mais sobre a nossa roda em Brasília: http://terapiacomunitariapsicanalise.blogspot.com/

terça-feira, 8 de março de 2011

Práticas Inovadoras em Políticas Públicas

Psicólogos(as),

O CFP disponibiliza à categoria textos de Práticas Inovadoras realizadas por psicólogo na Atenção Básica à Saúde, no Sistema Prisional e no campo das DST/aids.

Para conhecer as experiências inovadoras, acesse os links abaixo.

Práticas Inovadoras em Psicologia na Atenção Básica à Saúde

http://crepop.pol.org.br/novo/908_praticas-inovadoras-em-psicologia-na-atencao-basica-a-saude

Práticas Inovadoras no Sistema Prisional

http://crepop.pol.org.br/novo/893_praticas-inovadoras-no-sistema-prisional

Práticas Inovadoras em Políticas Públicas – DST e aids

http://crepop.pol.org.br/novo/369_praticas-inovadoras-em-politicas-publicas-dst-e-aids

Fonte: http://crepop.pol.org.br/novo/cat/publicacoes/praticas-inovadoras

Prefeitura de Guaxupé inova e forma primeira turma do curso de Terapia Comunitária


Há quase um ano a Prefeitura de Guaxupé trouxe para a cidade o curso de Terapia Comunitária. Uma aposta da atual administração com um objetivo muito simples e ao mesmo tempo muito ousado: capacitar gente para ouvir gente. É claro que isso é uma definição muito simplificada e até pequena diante da grandiosidade do projeto. A definição de Terapia Comunitária é bem mais complexa do que isso: “é uma abordagem terapêutica em grupo com a finalidade de promover a atenção primária em saúde mental. É um espaço de partilha de sofrimentos e descobertas, privilegiando o saber e a competência, construídos pelas experiências de vida do indivíduo, da família e da comunidade. Estimula o grupo a consolidar vínculos e “empoderar-se”.

De forma prática, a Terapia Comunitária é um instrumento de transformação de vidas, especialmente de vidas em estado de vulnerabilidade, seja social ou emocional e não necessita da intermediação de um psicólogo. O curso foi composto por 4 módulos, com uma carga horária de 160 horas de teoria e vivências, 120 horas de práticas em Terapia Comunitária e 80 horas de Intervisão. Na noite da sexta-feira, 26 novos terapeutas comunitários se formaram.
A cerimônia aconteceu no Teatro Municipal e foi marcada por depoimentos emocionantes e pela empolgação de todos ao apresentar resultados impressionantes como a diminuição e até a interrupção do uso de medicamentos de pessoas que participam de algum dos 8 grupos que a cidade já conseguiu formar.
Todos os alunos, hoje terapeutas, são unanimes em destacar a mudança que a participação no curso promoveu em suas vidas e que todos têm um novo olhar sobre o valor da conversa, sobre o valor de se compartilhar a vida com outras pessoas e especialmente do valor de se implantar vários núcleos de terapia comunitária em toda a cidade.
Uma máxima da Terapia Comunitária é essa partilha de experiências e a certeza de que a maioria dos problemas de saúde decorrem de problemas emocionais que podem ser minimizados ou eliminados com um bom desabafo em um ombro amigo.
Tudo parece muito simples, mas nada é simples no começo e foi preciso muita coragem para que o curso fosse ofertado de forma gratuita em Guaxupé. A Secretária de Desenvolvimento Social fez questão de destacar exatamente esse compromisso do Prefeito Roberto Luciano em revolucionar a administração pública trazendo as pessoas para o centro das atenções e dos esforços públicos. Segundo ela a Terapia Comunitária veio somar esforços para consolidar essa nova realidade da Assistência Social: “As políticas sociais ajudam materialmente e durante um intervalo de tempo. Mas a questão humana, pessoal, da vida não. A TC vem resgatar o real sentido da solidariedade e da vida em comunidade. O importante é fortalecer a autoestima da pessoa, e criar uma rede social que apoia o seu crescimento e desenvolvimento pessoal, profissional e social.”
O Prefeito Roberto Luciano lembrou que a depressão e a angústia foram considerados mal do século o que torna ainda mais importante o trabalho dos terapeutas comunitários que bem definiu o prefeito, pessoas de boa vontade, desprendidas que querem ajudar o outro e que é fundamental o trabalho de multiplicação desses núcleos de terapia: “Essa ação reflete o que a gente acredita ser uma família, uma comunidade e uma cidade mais feliz”.
Os mais diferentes profissionais frequentaram o curso: profissionais da área da saúde, assistentes sociais, educadores, lideranças comunitárias, mas fundamentalmente todas são pessoas com habilidades para lidar com grupos, pessoas sensíveis ao sofrimento do outro e interessadas em desenvolver trabalhos comunitários e dar sua contribuição para a melhoria da qualidade de vida de muitas famílias.
A Terapia Comunitária teve sua efetividade comprovada pelo SUS e será adotada nas Unidades Básicas de Saúde. Nesse sentido Guaxupé está um passo à frente da maioria dos municípios brasileiros e a previsão é que em breve, uma nova turma para o curso será aberta e com mais profissionais capacitados, mais comunidades serão beneficiadas.
O curso foi ministrado por 4 especialistas: Profª. Mari E. L. Teixeira, Profª Doralice Otaviano , Profª Ana Paula Cascarani e Profª Maria Vitória Paiva .

Terapia Comunitária tem reduzido consumo de medicamentos e elevado a autoestima social

Responsáveis pelo êxito das terapias: Ana Paula, Mari, Ana Luíza, Vitória e Dora
Responsáveis pelo êxito das terapias: Ana Paula, Mari, Ana Luíza, Vitória e Dora

O Ministério da Saúde já adotou oficialmente a Terapia Comunitária como uma das metodologias de tratamento do Programa Saúde da Família. Em Guaxupé, grupos de terapia começaram a se formar em maio de 2010. Segundo a Secretária de Desenvolvimento Social Ana Luíza de Souza, é um programa pioneiro no Sul de Minas. Depois de passarem por um curso de 360 horas, os formandos receberam um certificado na noite de sexta-feira, 26.2, no Teatro Municipal.

Oito grupos de terapia se formaram na cidade desde a implantação do projeto, mas a primeira formatura cedeu 26 diplomas, em especial para aqueles que participaram da carga horária exigida para se tornarem multiplicadores de novos grupos. Ana Luíza destacou publicamente que "não somos concorrentes dos psicólogos. Nós ouvimos e acolhemos o sofrimento das pessoas", já muita gente sofre sozinha.

Além de fazer parte dos centros de Referência da Assistência Social, como CRAS 1 e 2, duas igrejas cederam espaço para os encontros terapêuticos semanais: a São José Operário e a São Francisco, Duas entidades também disponibilizaram a terapia aos seus assistidos: a Luz da Vida no Combate ao Câncer e a AADG, Associação de Apoio aos Deficientes de Guaxupé.

Representando a AADG na solenidade e também uma das formandas, Ester de Mesquita Trevisan informou que, na Associação, os participantes se tornam mais compreensivos durante e depois da terapia. Foi também um apoio para lidar melhor com as diferenças e um trunfo a mais para elevar a autoestima e o convívio social. Ester adiantou que pretende continuar esse trabalho com outros grupos.
A presidente da Luz da Vida, Cida Sandroni, também fez terapia e foi uma oradoras da solenidade. Divulgou que atualmente 23 estados brasileiros aplicam a terapia comunitária, resultando num saldo aproximado de sete mil terapeutas comunitários capacitados. Tão importante quanto números são os objetivos a serem alcançados: prevenir depressão, sofrimento emocional, violência doméstica, despertar a solidariedade, capacitação técnica e profissional de multiplicadores, entre outras metas.

Na teoria e na prática já foi comprovado que "quando a boca cala, os órgãos falam; quando a boca fala, os órgãos saram". Presente na solenidade, a Secretaria de Saúde Luciana Terra comentou sobre os efeitos positivos da Terapia Comunitária, como a redução de consultas e medicamentos específicos. Posteriormente, vários formandos afirmaram que não consomem mais antidepressivos, ansiolíticos e afins. Para a secretária Luciana, a Terapia Comunitária é um momento de lazer que resgata o convívio entre as pessoas. "Tudo que envolve qualidade de vida é benefício para a nossa população. Quanto mais pessoas se interessarem pela terapia, melhores serão os resultados na sociedade."

A multiplicação da qualidade de vida

Os novos multiplicadores terapêuticos Terezinha, Cida e Celso A intenção que os oito grupos iniciais se multipliquem cada vez mais. Do total de 360 horas do curso, 80h são dedicadas à teoria. Há 120 h de aulas práticas e mais 80h de intervisão, em que um ajuda o outro. Tem ainda outras 80h de vivência terapêutica.

Alguns formandos já iniciaram a multiplicação de cursos. A professora Maria Aparecida Smargiassi, juntamente com o publicitário Celso de Moraes e a aposentada Terezinha de Rezende pretendem implantar, agora em março, a Terapia Comunitária no horário noturno da Esc. Mun. Antônio Costa Monteiro, tornando assim a Secretaria de Educação uma parceria desse programa social e de saúde.

Para a professora Cida, "o curso foi maravilhoso como crescimento pessoal. "Para entender o outro, você primeiro que tem se compreender como pessoa", ele definiu. Já a aposentada dona Terezinha poderá também contribuir ainda com a experiência da idade, 76, e a disposição para aproveitar a vida. Recentemente ela estudou teclado, piano e até saxofone.

O presidente da Associação Amigos da Esperança, João Carlos dos Santos, que desenvolve um trabalho social com 98 crianças carentes, em diferentes bairros, pretende formar dois grupos. Um será para adultos, no bairro Santa Cruz. "Você precisa ter tempo para conviver com as pessoas. Isso ajuda a gente mesmo. Quando alguém ouve as pessoas pode resolver um problema próprio, pessoal". O segundo grupo idealizado será específico para crianças. A intenção é suprir uma carência atual da falta de tempo dos pais, que trabalhavam fora ou estão passando por problemas emocionais, e não têm tempo ou disposição para ouvir os filhos.

Outro multiplicador é Toninho Vilas Boas, que já levou uma sessão de Terapia Comunitária para a área rural e está empenhado levar em dar continuidade a esse projeto. Diante de depoimentos sobre os benefícios alcançados, provavelmente a ex-professora Maria dos Reis Carmo será uma das multiplicadoras na igreja São José Operário.

Ao ouvir o pai João Carlos dos Santos ser entrevistado, a filha Mônica, de 12 anos, perguntou com muita graça e naturalidade se tudo que foi falado, pelos entrevistados e outras pessoas, ia sair no jornal. Apenas por limitação de espaço só é possível resumir e registrar o essencial, ainda que muitos depoimentos sejam exemplos valiosos de como mudar de vida. Nesse caso, melhor do que a leitura é participar da terapia. Falar e ouvir para que órgãos humanos, como o coração e outros, possam se curar de dores profundas causadas pelo peso da solidão.

Fonte: Correio Sudoeste

http://www.correiosudoeste.com.br/noticias/geral/item/835-terapia-comunit%C3%A1ria-tem-reduzido-consumo-de-medicamentos-e-elevado-a-autoestima-social