domingo, 30 de maio de 2010

O movimento da libertação interior, a revolução interior

Algumas vezes, tenho pensado que poderia ser interessante escrever alguma coisa sobre o movimento da libertação interior, ou sobre a revolução interior, que não são a mesma coisa, mês se parecem, estão inter-relacionados estreita e profundamente. Em ambos os casos, se trata de um movimento que a pessoa empreende em direção a si mesma. Um caminho que ela decide empreender para saber quem ela é. Devo dizer --abrindo aqui um parênteses-- que estas digressões não tem outro objetivo do que o clarear a minha própria trajetória de vida e, em algum sentido, o vasto esforço da humanidade como tal, desde as profundezas das origens da caminhada humana em busca de si mesma.

Aqui não há doutrinas nem organizações, tampouco fronteiras ideológicas ou qualquer outro tipo de afã privatizante ou exclusivista. Podemos dizer, como forma de começar esta conversa, (porque é disto que se trata, de uma conversa e não de um discurso, não há pretensão de exibir conhecimento ou convencer) que entendemos como movimento de libertação interior ou revolução interior –ainda tratando ambos em conjunto, quase como sinônimos, que não são—tudo que a alma faz para se ver livre do que a trava, do que a aliena, do que a confunde e engana.

Neste sentido, podemos dizer que a terapia comunitária é um movimento de libertação interior, que o pensamento de Karl Marx é um movimento de libertação interior, o pensamento de Paulo Freire, as idéias e a prática de Jesus, etc. Tudo que traga a pessoa de volta para ela mesma, tudo que dissolva as ilusões ou mentiras, os enganos ou preconceitos, é um movimento de libertação interior.

A meditação, a oração, a arte, o estudo das religiões e a sua prática, a partilha, a expansão da consciência a través do trabalho individual e coletivo, das ações solidárias ou solitárias, são também expressões ou formas de realização da libertação interior. Deve estar claro, neste ponto, que não há –como dissemos— receitas ou dogmas.

Da revolução interior podemos dizer que seja o processo de retorno da alma a si mesma, produzido por uma relembrança ou reintegro dela à matriz divina essencial que subjaz a toda manifestação, a tudo que existe. Talvez possamos dizer que esta revolução, que resulta da libertação interior, é o fim do caminho humano, é a conclusão da caminhada.

Alguns, como São Francisco de Assis ou Gandhi e o próprio Jesus, se tornaram exemplos desta possibilidade que está aberta a toda pessoa humana pelo mero fato dela existir. Os Beatles, John Lennon e George Harrison em particular, mas o conjunto como um todo, funcionaram --e funcionam ainda-- como promotores da libertação interior e coletiva pelo amor expansivo, o amor sem fronteiras, a fraternidade universal, a comunhão com tudo que existe.

Não há conclusões para este início de conversa, apenas a expectativa de que possamos nos lembrar, que possamos nos lembrar de nós mesmos.

sábado, 29 de maio de 2010

Poetizando a Terapia Comunitária

Enviei e-mail para o autor poder autorizar eu postar, mas até agora não tive retorno, mas achei tão encantador a forma dele falar sobre a TC que vou me arriscar a postar, mas claro com todos os dados dele no final.

Terapia Comunitária

Silas Corrêa Leite - Dezembro2006
“O que faz de qualquer número de pérolas um colar, é o fio invisível que as une todas numa certa ordem”Antonio Sérgio

O Filósofo Pascal dizia que a infinita solidão do espaço sideral o atraia. Paradoxalmente, a famosa bossa-nova de João Gilberto em áureos tempos, num belíssimo sincopado afirmava “é impossível ser feliz sozinho”. Para alguns poetas sonhadores, em estúdios íntimos buscando pérolas de ostras refratárias, a solidão é uma grande amiga. Pode circunstancialmente ser, mas, só para alguma ocasional reflexão ponderada, certa autovalorização com acompanhamento clínico. No entanto, nesses tempos de cada um por si e salve-se-quem-puder, até de um neoliberalismo que globaliza insanidades com grifes e sexismo, o problema do conviver social precisa ser repensado. As pessoas solitárias ligam o aparelho de televisão para terem companhia sonora. Outros buscam um frio amigo virtual para o descalabro de uma utopia internética. Quantos seres esperam o toque carnavalesco de um aparelho celular, em resposta a um pedido de socorro em vão?. Muitos carentes ainda se aventuram em canoas furadas e sofrem predações de todos os tipos, quando não fatais. Certas pessoas já são problematizadas nessa individuação que reflete no psicossomático, e assim vão ao shopping-center para não se sentirem sozinhos entre estranhos. Buscam ali se sentirem seguras entre vitrines e manequins, elas mesmas desfilando a sozinhês, o terrível mal desse início de terceiro milênio. E vai por aí o sentido da falta de companhia, de falta de diálogo, da tal ausência táctil. Eu mesmo, nas minhas gracezas poéticas, aventurando uma solidão-cangalha, cantei: “Acompanhe a maioria/Ande sozinho...” Ou, ainda, num poemeto-fuga ventilo a alma nau: “Eu faço poesia/Para ter companhia”. A utopia singular dos que ainda esperam e confiam, escrevem vivências e expectativas.
Nas grandes metrópoles de milhões desse chamado “gado marcado” para a sobrevivência possível, gaiolas-apês escondem carentes de toda sorte, quase sub-seres; pessoas sensíveis com gravíssimos conflitos por absoluta falta de diálogo-saída-de-emergência, isto é; de terem com quem conversar. Com falta do nutriente grupal de uma convivência ético-plural-comunitária. O ser humano é positivamente (e por isso mesmo evoluído) um ser social, dependendo do outro para se fazer Ser, se completar assim. Precisa, portanto, de companhia entre humanus. Mas não é fácil. Alguns brincam, trocadilhando: há bares que vêem pra bem. Isso só vale para a fauna notívaga que é bem realizada em todos os suportes afetivo-emocionais, quando não é só uma outra fuga para a solidão que dá nos nervos. Você é tudo o que você tem. Você é o seu próprio capital. As solidões são sábias?. Isso é pura poesia. A dura realidade da solidão é muito triste. E pode acabar em doença até.
Imagine então, na descalça periferia sociedade anônima, em vielas, becos, guetos, cortiços, favelas e palafitas, quando conflitos de baixa estima são resignados, quando tristes vexames extremos são sublimações em várias fugas emergentes e à mão; de ocasionais drogas a neuras mal sacadas. De eventuais violências domésticas a infrações tácitas, mais o medo sobrevivencial da difícil impossibilidade dos sem saída, dos sem açúcar e sem afeto. Isso dói. Um território de paradigmas.
Nesses vários e distintos brasis por atacado, de tantas sócio-historicidades problemáticas, certos tipos de “respostas” a essa gama de variadas situações são dadas aqui e ali, com retornos satisfatórios, e então, aleluia, tudo resultou num ocasional encaminhamento para a paulatina solução imediatamente possível, até como ocasional prevenção na área da saúde mental, entre outros retornos de qualidades múltiplas.
Estou me reportando à tão em voga Terapia Comunitária de ótimos resultados. Nascida lá na cidade de Fortaleza, Ceará, por criação técnico-ocupacional de um visionário psiquiatra a partir de reuniões de grupos em favelas, a idéia como um todo foi alicerçada e ganhou viço, foi experimentalizada aqui e ali, e hoje, arejada logra ocupar espaço de estudos com elenco de práticas também internacionais. É preciso saber ouvir. É preciso um canal propício a desabafos terapêuticos. Trocas. Somas. Pertences e questionamentos sócio-grupais. A boca fala? O corpo sara. A boca cala, o corpo fala. Quer saber? Sem falar, sem conversar (e assim muito bem conviver enquanto humanus) o corpo de certa forma intencionalmente avisa, “responde” direta ou indiretamente, imediatamente ou a curto, médio e longo prazo, por doenças difíceis de identificar causas; por falsos fantasmas, distúrbios mentais, seqüelas graves ou fatores de implicações até mesmo vitais, como o próprio câncer e suas seqüelas.
Como é bom ter com quem conversar. O ser humano é assim efetivado como ser humano, porque socialmente comunga princípios naturais da espécie e convive com o diferente de si, mas, próximo de si. O Ser precisa falar, precisa trocar para evoluir; precisa aprender, pensar, sentir, ter aberta sua tão natural e inerente caixa de diálogo, para então se reafirmar como ser-social e ocorrer a partir disso uma salutar inteiração evolutiva de meios e de princípios também.
Terapia Comunitária é exatamente isso: ter com quem conversar. Humanismo de resultados. Terapia de Amor. Colocar as pessoas para trocarem experiências, desaforamentos moderados, irem ao encontro de um seu semelhante, treinarem refinamento pessoais, alicerçarem bases, dizerem de seus problemas, sondarem soluções nos entornos, buscarem resultados amigáveis a partir de uma amizade estimulada enquanto solidária; tudo a partir de relações-parcerias, bases bilaterais de evoluções nesse propósito. Todos têm problemas, claro. Todos têm soluções? Na tal Terapia Comunitária têm. Médicos, psiquiatras, terapeutas, amantes, confidentes, poetas, parentes, amigos, colegas de trabalho e estudo, convivas, visitas, profissionais gabaritados, são saídas de emergência. Vazão de foro íntimo. Precisamos desesperadamente ter quem nos escute, de quem confie em nós, de quem nos ouça; precisamos inegavelmente de um ombro amigo, de quem opine, de quem releve, de quem sonde conosco uma luz no fim do túnel, de quem perdoe, pondere; do estojo de uma palavra-retorno-referencial; principio de contrariedade amistosa. Um beijo, um abraço, um aperto de mão. Vizinho íntimo. Tudo a ver. Essa é a idéia. Terapeutas de almas?
Deus não produz lixo, disse Erma Bordeck. Pessoas se reunindo buscam soluções reunindo opiniões diferentes, comparações potencializadas, versões difusas sobre o mesmo tema, inclusive em caso de doenças. Fortemente juntas as pessoas pensam melhor. Falam de sonhos impossíveis, desafios e arrebentações íntimas. Há uma escuta receptora. Faz bem para a pele da alma respirar a energia da arte que há no encontro. A sabedoria popular do diálogo. A vida é a arte de prosear. Conversando venceremos. As flores do jardim de nossa alma.
A competência de cada de cada um veiculada, promovida. A habilidade de cada um passada ao próximo, oferta e procura de seres. A informação-referencial, o aprendizado de trocas, a informação cara a cara, o conhecimento-questionamento, a busca semeadora, a escora divinizada, o suporte-empenho, o retorno de meio. Olhos nos olhos. Dor a dor. O que cada um sabe vale ouro para o outro. Experiências divididas, lutas revistas, conquistas sondadas, revisões de entendimentos antes fechados em prismas precários. Ficamos “doentes” se deixarmos de nos comunicar dinâmica e efetivamente. O chamado distúrbio mental é só isso: um esconderijo de impronunciamentos. Conversando vivemos a vida, levamos a vida, suportamos vida. Amizade assim vale o verbo viver.
Terapia Comunitária é gente se reunindo com gente, para se contar um ao outro, contar um com o outro. Faz diferença o refletir de cada um; seu sentir todo próprio, particular e assim dividido; inerente mas, pensado comunitariamente, solidariamente. Almas gêmeas se encontram assim. Gente é para brilhar, não para morrer de fome, cantou Caetano Veloso.
Numa Terapia Comunitária você saca melhor as perspectivas que antes solitário não via direito. Deposita créditos emotivos que sozinho não julgava ter. Poupa delírios que nem sabia em que comportamentais seqüelas escondia. Vive uma relação de se assumir em núcleo de iguais. Tem uma outra ótica renovada do seu problema que dilui no encorajamento das idéias em comum. Experimentações e desejos são regiamente partilhados. Todos por todos. A participação da dor de um, para um todo, esvazia o foco e o peso da dor. Cria teias salutares de novos rumos. Alavanca elos para mudanças radicais. Ser ouvido é uma delícia de Deus. Uma benção.
A Terapia Comunitária da conversa pública (falar/ouvir) é um olhar novo sobre horizontes plurais. Amor e flor.
Se você tem com quem conversar, isso compensa muita coisa. Se você não tem, não importa nada do que possui.
Solte as amarras. Proseie. Solte o verbo, solte a sua língua. Mostre-se.
Abra os armários de seu mundo interior, ventile idéias, alimente prosa nua e crua. Todo conhecimento é luz.
Passe a palavra adiante. Essa é a verdadeira terapia humanizada. Baixe essa guarda. Baixe esse peso.
-Como vai você? Eu preciso saber de sua vida, para também poder contar a minha vida. Isso tá parecendo uma balada dos anos 60, quem não dialoga vegeta. Quem não conversa, não se conserva, não se tem amor. Ame e dê-se: compartilhe-se. Feliz dia do amigo.

Sobre o autor:Silas Corrêa Leite – Estância Boêmia de Itararé, São Paulo.Teórico da Educação, Crítico Social e Jornalista Comunitário. Pós-graduado em Relações Raciais, Literatura na Comunicação (ECA) e Direitos Humanos (USP). Prêmio Lígia Fagundes Telles Para Professor Escritor. Autor de “Porta-Lapsos, Poemas”, Editora All-Print, São Paulo, 2005, Série Literatura Brasileira Contemporânea. Site pessoal: www.itarare.com.br/silas.htm - Autor do e-book ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS, download free no site www.hotbook.com.br/rom01scl.htm - Texto da Série “Terapia das Almas”, livro inédito do autor. E-mail para contatos: poesilas@terra.com.br

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Adote Borgner uma cidade do Haiti

Adote uma cidade
No início deste ano o mundo assistiu uma das maiores catástrofes em forma de terremoto atingir o Haiti. Milhares de pessoas foram mortas e outras tantas perderam suas casas , seus entes queridos, sua saúde, suas profissões , seus sonhos e a possibilidade de olhar para o futuro com fé na vida. Assim como Porto Príncipe, Borgne uma pequena cidade vizinha que foi parcialmente atingida pela catástrofe abriga muitos cidadãos que vem de todas as partes da Capital em busca de segurança, aos poucos e com muitas dificuldades estas pessoas tentam se reerguer buscando apoio a quem possa ajudar. Sensibilizadas com esta situação .
O Quarteto A Quatro vozes resolveu adotar Borgne. Como se reconstroi uma cidade? Casas a serem reerguidas, escolas a serem estruturadas , pessoas a serem resgatadas e isso é possível com exercício de solidariedade e sensibilidade, ações, idéias e realizações. Contamos com a ajuda de todos que puderem ajudar de alguma forma.
A Quatro Vozes fará ações com a musica doando seu cachê . Desde já agradecemos a ajuda de todos na certeza de que arte é conceito ação e beleza que salvará o mundo. Show comrenda destinada ao Haiti
será 6/6 as 18:00 Local Centro cultural Rua Vergueiro n. 1000 São Paulo SP com participações do GRUPO VOZ , HOMEM DO BRASIL ,QUARTETO A QUATRO VOZES www.aquatrovozes.com.br
Segue carta de Pe Jan Haitiano amigo do Quarteto que nos pede ajuda

Borgne, Haiti, 19 de maio de 2010

Prezados irmãs e irmãos do Brasil, fãs de “A Quatro voz”, mulheres e homens sensíveis aos dramas da humanidade, saudações e paz!
As preocupações e as urgências causadas pelo terremoto do 12 de janeiro de 2010 nos levam a pedir ajuda...
Como todos vocês sabem, este drama pode ser considerado com um dos mais devastadores da história.
Antes deste acontecimento, Porto Principe e suas periferias, a despeito de suas tão fracas estructuras, foram considerados como um centro de atração para a maior parte da população haitiana. É um centro ao redor do qual giram a vida e o futuro dos haitianos. Para ter acesso à educação primária, secundária e universitária, para achar um trabalho, para ir aos médicos, para tirar carteira de motorista ou passaporte e outros serviços, todos são obrigados de ir a Porto Principe.
As consequências deste sombrio acontecimento são tão pesadas a tal ponto que os meios para nos reerguermos ultrapassam as nossas capacidades e não estão ao nosso alcance. Os números são longe de serem exautisvos. Foram enregistrados 230 mil mortos, 50 mil deficientes, 1.2 milhõess de desabrigados sem falar dos desaparecidos e do estrago que este drama causou ao nosso sistema econômico. Hoje em dia, e depois de mais de 5 meses, o atmosfero é de desolação. Um grande fluxo de migrantes sairam de Porto Principe e foram para todas as partes, e mesmo assim, não se dispõem, la onde eles estão, de estrutura de acolhimento.
O Borgne que um município do Departamento do Norte recebe seus filhos e filhas, sobreviventes, junto com as suas vulnerabilidades. Nós, pastores desta Paróquia, estamos tentando dar uma resposta pastoral a esta situação deshumanisante et humilhante. O que foi feito até agora? 1) Conseguimos um psicólogo para atender os sobreviventes. Tivemos duas sessões de terapia. Era pouco, mas ajudou enormemente. 2) Arrecadamos aqui na paróquia, roupas, louças e algumas coisas básicas para mandar para uma outra paróquia de Porto Principe. É interessante ver como os pobres também podem ajudar outros pobres! 3) Conseguimos de uma paróquia amiga dos Estados Unidos 100 mil gourdes ( 1 dólar = 40 gourdes) para pagarmos um ano escolar para 100 crianças.
O que está sendo feito agora? Constatamos que as ruas do Bairro estão cheios de todo tipo de gente que vieram de Porto Principe: Jovens, velhos, crianças sem rumos. Muitos estão numa situação mais do que miseráveis estamos organisando uma ação pastoral que tende a acampanhar de maneira eficaz, sobretudo os mais necessitados, os idosos, os menores de rua, os jovens etc...E mesmo assim, estamos longe de atingir a meta, porque o Estado esta meio ausente. Aqui, tudo fica por conta da Igreja...

Por isso tudo, nós nos dirigimos a vós, amigos do Brasil, sollicitando a sua ajuda afim de podermos acompanhar essas pessoas, trabalhar para que elas possam reintegrar a localidade.
Contando sobre a sua generosidade e sobre o seu espírito de colaboração, em nome da População do Borgne, os agradecemos por este gesto de bondade.
Padre Jean Molière Elarion
janwmache@hotmail.com

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A terapia comunitária e a recuperação da pessoa humana

Tratar de definir o que seja a espiritualidade, parece-me o começo necessário deste diálogo. Entendo por espiritualidade, a vivência de Deus ou do sagrado, por contraposição com a religiosidade, que é essa mesma vivência no âmbito de uma religião. A primeira, se processa no cotidiano, e, nesse sentido e contexto, tudo é sagrado. A segunda, se bem que possa estar incluída ou incluir a primeira, se processa sobre tudo, embora não exclusivamente, no âmbito definido como sagrado por uma religião.

Entendo por religião, um conjunto de práticas e crenças orientadas à vivência do sobrenatural e divino. Supõe, embora nem sempre, uma hierarquia sacerdotal ou de mediadores entre o humano e o divino, o que é suprimido tanto pela terapia comunitária --em que cada pessoa é o seu próprio mediador, se assim podemos nos expressar-- quanto na espiritualidade, âmbito por excelência da vivência mística ou da participação com Deus.

Pode ser contraditório, ou parecê-lo, colocar em âmbitos separados e até opostos, o que parece estar unido e ser uma única e a mesma coisa, isto é: a vivência e a crença. A experiência e a conceituação dessa mesma experiência. São como a forma e o conteúdo: indissociáveis. Mas, para fins da análise, devemos separá-los.

Uma coisa é crer em Deus, e outra, viver em Deus, ou com Deus, ser um com ele. Um é o âmbito da crença, como dissemos, outro o da experiência. Um o da religião, outro, o da mística.

Na terapia comunitária, abole-se a mediação entre o ser humano e o sagrado. Repõe-se no âmbito da sociabilidade que abole as barreiras de classe, social, de status socioeconômico, de nível intelectual, de aparência, raça, cor, religião, etc, a unidade e igualdade essencial da pessoa, seu pertencimento a uma realidade que a inclui, com seus atributos que lá fora, na vida anterior e exterior ao espaço da terapia comunitária como recriação da pessoa para si, opõe o igual ao seu igual, faz do irmão um inimigo, do vizinho um estranho, do diferente alguém perigoso, do pobre um desprezado que nada vale, do intelectual e do técnico, do doutor e do profissional, um que é tudo, que vale mais, e deve ser respeitado embora nem sempre mereça esse respeito.

Neste sentido, a terapia comunitária funciona como um embrião de religiosidade primitiva, sem o tom eclesiástico ou institucional que a palavra possa ter ou despertar. Religiosidade, no sentido de pertencimento, de união com o real, sem fissuras nem cisões. Aqui, a espiritualidade, nos parece, já se separa como uma prática ou um estado de consciência, em que a pessoa e a comunidade abolem as barreiras que a sociabilidade capitalista, a sociedade do pensamento único que classifica, que coisifica, que aliena o indivíduo de si mesmo e da vida, do tempo, da história e da memória, dos seus semelhantes.

Na terapia comunitária, a pessoa se reencontra consigo mesma, mas não com essa mesmidade que pode parecer coisa intimista ou excludente do coletivo, do social, e sim com a sua totalidade, com tudo que ela é. Ela recupera, vai recuperando gradativamente ou de uma só vez, a imagem do ser inteiro que ela é, da sua trajetória de vida, seus valores, os esforços pessoas e familiares de que é resultado, o seu projeto de futuro, ancorado num pertencimento coletivo que antes apenas podia vislumbrar e agora se lhe aparece como um horizonte concreto de existência.

Este processo ocorre nas rodas de terapia comunitária pelo Brasil afora, e, já, no Uruguay, onde desde o ano passado, um grupo de terapeutas comunitários vem trabalhando em setores como a recuperação de jovens uduários de drogas, e demais setores da atenção primária em saúde.

A pessoa, muitas vezes arremessada de cidades pequenas ou do campo para as grandes cidades, outras vezes, muito frequentemente, perdida na prisão de papéis sociais que lhe negam a identidade e a plena realização das suas potencialidades, redescobre o sentido da sua vida, depara-se novamente com a vida como algo a ser criado, construido epssoal e coletivamente, no seio da sua família, no convívio com vizinhos e coleags de trabalho ou de estudo. Em outras palavars, novamente se descobre autora do seu próprio destino, sujeito e não objeto.

Isto pode parecer ambicioso demais ou excessivo, se você não participou ainda destas experiências coletivas de recuperação de pessoas, mas quem já tem alguns passos dados nesta esrtarda, sabe o quanto se partilha de novos nascimentos cada vez que os terapuetas se encontram, cada vez que é posta a rodar novamente esta roda da vida que, não por acaso, se apoia essencialmente e muito fortemente, no pensamento de Paulo Freire, a pedagogia da autonomia, a educação como prática da liberdade.

Esta é uma das estradas, desses caminhos palmilhados por centenas de pessoas pelo Brasil afora, e, como dissemos, já em marcha no Uruguay, com entrada para a Argentina, na província de Misiones. São formas concretas de reconstrução da humanidade sobre novas bases, ou melhor, sobre bases olvidadas, que começam a ser redescobertas e postas em prática.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Espiritualidade e Terapia Comunitária

Nestes anos em que venho participando da Terapia Comunitária, já como curioso ou então como colaborador em distintos trabalhos, tenho tido a oportunidade de observar que a conexão entre espiritualidade e Terapia Comunitária é intensa e profunda.

As rodas de Terapia Comunitária concluem com rituais de integração. São momentos de comunhão com o sagrado, de reforço de laços solidários. São momentos em que revive a religiosidade adormecida. As pessoas se abraçam, formam-se rodas, cantam-se hinos religiosos, abençoam-se uns aos outros, incluindo os ausentes. Mas não quero me referir aqui somente a manifestações explícitas de religiosidade, e sim, pontuar o que me parece ainda mais importante, que é como, a partir da prática da terapia comunitária, da redescoberta de si mesmo e da nossa inserção num todo maior, praticam-se a fraternidade, o amor de uns pelos outros, o amor a si mesmo, o respeito e a reverência à vida nas suas distintas manifestações, na sua misteriosa inextinguibilidade.

Quando as pessoas aprendem a se escutar com atenção e respeito, e ao ouvir o outro percebo que ele e eu somos semelhantes, passamos por sofrimentos parecidos ou situações também parecidas, surge uma empatia. Eu e o outro não somos tão diferentes. Ela ou ele, e eu, temos muito em comum. Eu ajudo e sou ajudado. As redes, a teia de aranha, não são símbolos sem significado, mas realidades concretas.

Quando, na finalização da roda de Terapia, nos abraçamos uns aos outros, é porque juntos descobrimos uma força maior, uma que estava adormecida ou esquecida, como dissemos, e que foi revivida em poucos minutos.

Quando a Terapia Comunitária chegou em João Pessoa em 2004, no bairro dos Ambulantes, na louça da sala da Associação dos Moradores do Bairro em que se iniciaram os trabalhos, estava escrito: Juntos podemos vencer todos os problemas. Não poderia haver nada mais significativo. O reencontro da força coletiva, a recuperação da fé em si e na comunidade como ator social concreto, efetivo, no empoderamento das pessoas e na revitalização dos seus laços de pertencimento ao tempo e à vida, à sociedade e ao mundo atual, é profundamente religioso, no sentido original do termo.

Alguns alunos do Programa de Posgraduação em Enfermagem da UFPB tem pesquisado a influência ou presença da fé nas rodas de terapia no Rio Grande do Norte. Outros, tem levantado, em entrevista com profissionais da saúde formados em Pedras de Fogo, Paraíba, a autoconsciência do renascimento que se processa na pessoa no processo de formação em Terapia Comunitária.

Ainda, no México, no Uruguay, e na Venezuela, tenho observado a confluência de tradições místicas da humanidade, entre as pessoas na ENEO-UNAM, na Facultad de Enfermería de la Universidad de la República (UDELAR), e na Universidad de Crarabobo.

O clima de alegria, a sensação de as pessoas serem vencedoras, o sentirem-se parte de uma força ativa de saração, é profundamente espiritual. Pessoas tem visto cor violeta (Uruguay), após uma sensiblização realizada, na qual, no final, cantou-se o Ave Maria. No México, um reviver da tradição asteca e tolteca, na visita às pirâmides de Cholula e Teotihuacán. Na Venezuela, um eclodir da alegria espontânea e gratuita que se expressam na dança e na piada, no mútuo se alegrar com a companhia dos promotores da vida, dos parteiros da esperança.

Não estamos falando apenas –embora também—das formas de religiosidade explícita, mas, sobre tudo, de vivências do sagrado. Nas Ocas do Índio em Beberibe-CE, nos encontros de formadores ou nas vivências durante a formação como terapeutas comunitários, temos vivenciado em nós e no grupo, estas sensações de pertencimento, de uma calma que ultrapassa a compreensão, uma sensação de paz, um estado de inexprimível unidade.

Já não importa o cargo ou a profissão, o papel social da pessoa ou a sua educação (grau de escolaridade), mas entre todos se criam laços de união duradouros que perpassam o tempo e as distâncias. É isto.

Dia 13 de maio de 2010 teve inicio o primeiro modulo do curso de formação de terapeutas comunitários na cidade de Guaxupé sul de Minas Gerais , pelo polo IAV INSTITUTO AFINANDO A VIDA , formado pelas terapeutas Ana Paula Cascarani , Doralice otaviano , Mari Leonel eMaria Vitória Paiva . Aproximadamente 50 terapeutas em formação participaram do encontro . Este curso é uma parceria da prefeitura municipal de Guaxupé e IAV . A prefeitura acredita que a tc será uma feramenta fundamental a ser usada em apoio aos familiares de dependentes quimicos . Nós do IAV estamos felizes com este inicio , pois acreditamos que "um sonho que se sonha só é somente um sonho , mas um sonho que se sonha junto já é realidade" . Os maradores da cidade de Guaxupé agradecem a Adalberto Barreto por ser o mentor da terapia comunitária . Dora afinandoavida@gmail.com

domingo, 16 de maio de 2010

Frente de combate à pedra da ruína: o crack

Olá grande rede, sabemos que a Terapia Comunitária tem sido uma ferramenta em várias esferas do sofrimento humano. Gostaria de compartilhar e de informar a mobilização que está sendo feita por órgãos lidados ao combate das drogas, mães e pais que estão desesperados por verem seus filhos se enveredarem nesse caminho, a sociedade que paga cada vez mais com os efeitos do aumento do uso principalmente do crack, que é capaz de desenvolver estados de dependência com muito maior frequência e com potencial maior, ou seja, não precisa fumar muita pedra para desenvolver um quadro grave de dependência. Por conta do alto grau de dependência e fissura, essas pessoas perdem referências, princípios, valores, verdadeiramente se desumanizam e parecem ter congelado e se desconectado com o mundo dos humanos. Meu trabalho tem sido um desafio, juntamente com toda esquipe da Comunidade Terapêutica Reviver, em que cada um com sua história cheia de dores e atos infracionais que chegam a ser arrepiantes, relacionados ao consumo do álcool e drogas (principalmente o crack) são reconhecidos num contexto mais amplo, no qual, ao contarem com uma oportunidade de se conscientizarem acerca dos próprios problemas podem desenvolver a capacidade de redefini-los e responsabilizar-se por suas próprias escolhas e atos.
Gostaria de alertar para o trabalho preventivo também, de apostar em informações, resgate dos valores e princípios humanos, conscientizar a criançada e os adolescentes desse caminho que como eu mencionei é o da pedra da ruína. Gostaria de enviar um site de uma ong www.cisa.org.br. que tem feito trabalhos preventivos para jovens de forma lúdica e incentivado a prática de esporte.
Todos sabemos que em qualquer comunidade, em qualquer roda, o tema Álcool e drogas são bem frequentes. Que possamos também ajudar a prevenir, afinal como diriam nossos avós "antes prevenir que remediar". Gostaria de dizer que o grupo de NA (narcóticos anônimos) possuem em seu estatuto o 12 passo, onde levam mensagem para vários lugares. Eles estão "limpos, em recuperação, já que a Organização mundial da Saúde vê a dependência química e de álcool uma doença crônica, progressiva e fatal. Essas pessoas podem levar mensagens em escolas, em rodas de TC, enfim, é através da história deles contada, do sofrimento vivido e da superação que podemos também utilizar como estratégia nessa luta. Quem tiver ou souber de outras estratégias, ongs, trabalhos nesse combate participe dando seu depoimento.
Esse trabalho que venho desenvolvendo junto com a equipe Reviver vai nesse encontro, de resgatar conexões humanas, valores, princípios, auto-conhcimento, novo script de vida.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

TERAPIA COMUNITÁRIA INDÍGENA




A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) da Presidência da República, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC) realizam dia 26 de abril próximo o lançamento do Projeto Piloto de Formação de Lideranças Indígenas em Terapia Comunitária , Massoterapia e Técnicas de Resgate da Autoestima Indígena.
O projeto piloto, de caráter inovador, tem financiamento da SENAD, e visa contribuir com a prevenção e atenção aos problemas do uso de drogas nas comunidades indígenas. 60 índios de todas as regiões brasileiras virão à Fortaleza participar do I Módulo da Formação que ocorrerá de 26 de abril a 02 de maio. A aula inaugural do curso será realizada no Movimento Integrado de Saúde Mental Comunitária - Projeto 4 varas no Pirambú. Os cursos acontecem em 4 módulos. Os demais módulos ocorrerão na cidade de Porto Seguro.

Estarão presentes à cerimônia o Secretário Nacional de Políticas Sobre Drogas, Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa, o Presidente da FUNAI, Márcio Augusto de Freitas Meira, a Coordenadora Nacional de Educação das Comunidades Indígenas, Maria Helena Fialho e os caciques das sete (7) etnias participantes do curso (Ticuna, Xacriabá, Terena, Kaingang, Guarani, Pataxó e Kaiowá).

O Projeto piloto será desenvolvido em Fortaleza e em Porto Seguro – BA. Em Porto Seguro será criado um pólo de Formação em Terapia Comunitária para as comunidades indígenas, com a construção de um complexo formado por uma oca de saúde comunitária para realização de massoterapia e do salão terapêutico tal como desenvolvidos no Projeto 4 varas.

SENAD, FUNAI e UFC desde 2004 vêm desenvolvendo projeto de atenção às comunidades indígenas em matéria do uso de drogas. Dentro deste projeto destacamos a pesquisa sobre o uso de álcool e outras drogas pelas comunidades indígenas brasileiras. Pesquisa coordenada pela Universidade Federal do Estado de São Paulo.

Serviço:
Evento: Cerimônia de Lançamento do Projeto de Formação de Lideranças Indígenas em Terapia Comunitária, Massoterapia e Técnicas de Resgate da Autoestima.

Local: Movimento Integrado de Saúde Mental Comunitária do Ceará – Projeto 4 varas
Endereço - Rua Profeta Izaías 456, Pirambú – Fortaleza – CE - localização pelo site www.4varas.com.br

Horário: 09h às 11h30min

Saiba mais:

A Terapia Comunitária (TC) foi desenvolvida no Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará sobre a coordenação do Antropólogo e Psiquiatra, Prof. Dr. Adalberto de Paula Barreto. “A Terapia Comunitária é um instrumento que nos permite construir redes sociais solidárias de promoção da vida e mobilizar os recursos e as competências dos indivíduos, das famílias e das comunidades. Procura suscitar a dimensão terapêutica do próprio grupo valorizando a herança cultural dos nossos antepassados indígenas, africanos, europeus e orientais, bem como o saber produzido pela experiência de vida de cada um". (Adalberto Barreto).

Seus objetivos são valorizar e reforçar o papel do indivíduo, da família e da rede de relações para que possam descobrir seus valores; favorecer o desenvolvimento comunitário, prevenindo e combatendo as situações de exclusão dos indivíduos e das famílias por meio da restauração e fortalecimento dos vínculos sociais e afetivos; tornar possível a comunicação entre as diferentes formas de “saber popular” e “saber científico” e intervir nas determinantes sociais da saúde, em especial na redução do estresse e ampliação do apoio social.

Parcerias

Em 1992 foi realizada uma parceria entre a Universidade Federal do Ceará e a Pastoral da Criança para capacitar os agentes da pastoral em Terapia Comunitária e ampliar suas possibilidades de atenção às famílias e comunidades.

Em 2004 uma parceria firmada entre a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, a SENAD, o Movimento Integrado de Saúde Mental Comunitária – MISMEC – CE e a Universidade Federal do Ceará possibilitou capacitar em Terapia Comunitária lideranças comunitárias em nível nacional com foco na prevenção ao uso de Álcool e outras Drogas. Nesta parceria foi realizado estudo de impacto da TC na atenção comunitária. Da realização de 12.000 rodas de terapia comunitária identificou-se que somente 11% dos casos necessitavam de encaminhamento para serviços especializados, Os demais encontravam resolutividade na própria roda de terapia comunitária.

Em 2007 o Ministério da Saúde reconhece a TC como uma prática de atenção básica. Investe em 2008, 2009 e, agora em 2010, na formação de integrantes da Estratégia Saúde da Família e Rede SUS em Terapia Comunitária.

Por meio das parcerias realizadas a TC alcançou repercussão nacional e internacional. O Brasil possui atualmente 16.600 terapeutas comunitários atuando em suas comunidades de referência e 40 pólos de formação distribuídos em todos os estados brasileiros. Os terapeutas comunitários estão organizados por meio da Associação Brasileira de Terapia Comunitária – ABRATECOM.

Para outras informações sugerimos os seguintes sites

Associação Brasileira de Terapia Comunitária – ABRATECOM – www.abratecom.org.br
Movimento Integrado de Saúde Mental Comunitária – MISMEC \ Projeto 4 Varas – www.4varas.com.br

O que é ser um terapeuta comunitário

Um terapeuta comunitário é uma pessoa que quer sarar constantemente das suas neuras, das suas dificuldades pessoais, de, como pessoa deste tempo, homem ou mulher do século XXI, abrir caminho para seus sonhos, suas possibilidades e suas capacidades para ser feliz.

É alguém que aprendeu, de repente ou num processo, que não poderia sarar sozinho, pois que não fora sozinho que adoecesse. Suas dores foram coletivas, embora aninhadas no seu ser individual.

O terapeuta comunitário aprendeu a lembrar de si e lembrar outros de si mesmos. Não como técnica apenas, mas sobre tudo como prazer pessoal, como satisfação de ver o outro crescer no processo mútuo de construção da própria pessoa.

Um terapeuta comunitário é alguém que lembrou das suas raízes, do lugar e da família, do bairro ou da terra, da província ou do estado de origem. O terapeuta, ao lembrar de si, reconstitui a sua história, sua memória, seus afetos, suas lutas, e se torna um motivador da libertação pessoal e coletiva.

O terapeuta comunitário aprendeu que é dando que se recebe. No convívio com os pobres, rompeu barreiras que as socializações posteriores à primária, estabeleceram no seu ser, retomando o contato com a fonte viva da vida. A gratuidade e a generosidade das pessoas do meio popular, sua fé e solidariedade, sua esperança ativa, renovam no terapeuta comunitário a sua própria resiliência.

O terapeuta comunitário rompeu com o autismo universitário, com o egocentrismo intelectualista, com os preconceitos que o isolavam de si mesmo e da vida e das pessoas ao seu redor. Por viver em rede, ele se restitui constantemente à trama da vida. O símbolo da terapia comunitária, a teia da aranha, mostra o trabalho constante do ser humano, terapeuta ou não, por estabelecer conexões vitais em todas as direções. Para dentro e para fora. Consigo, contigo, com o passado, o presente e o futuro. Com Deus, com a terra, com os vizinhos, com as pessoas com que se encontra a qualquer momento e em qualquer lugar. O terapeuta comunitário é um germe do homem e da mulher novos pelos quais trabalharam, sonharam e morreram milhares de pessoas em todos os tempos e em distintos lugares da Terra.

Ele é uma semente de esperança viva e ativa.

E muitas outras coisas que iras descobrindo na tua própria caminhada.

Formação de terapeutas comunitários em Sousa, PB

Entre os dias 24 e 28 de agosto de 2009, realizou-se na cidade de Sousa, o segundo módulo do curso de formação em terapia comunitária organizado pelo MISC-PB em colaboração com o Programa de Posgraduação em Enfermagem da Universidade Federal da Paraíba. Na oportunidade, mais de 60 cursistas oriundos da própria cidade, bem como dos municípios de Pau dos Ferros, Santa Luzia, Bonito de Santa Fé, Cajazeiras, e outros lugares, se reuniram no Centro de Formação e Treinamento de Professores, para trabalharem suas competências no cuidado à saúde, de acordo com o livro do Prof Adalberto de Paula Barreto, onde está fundamentada a terapia comunitária integrativa e sistêmica.

Esta tecnologia de cuidado se baseia, entre outras coisas, na resiliência, a carência que gera competência. Outro dos pilares, o pensamento de Paulo Freire, estabelece a horizontalidade e a circularidade do saber, na busca da autonomia da pessoa e da comunidade. O pensamento sistêmico e a teoria da comunicação humana, unidos à antropologia cultural, completam a fundamentação desta atividade. As pessoas, na sua maioria, trabalham na estratégia de Saúde da Família, sendo na sua grande maioria, agentes comunitários de saúde, poucos/as médicos/as, pedagogos, etc, ligados ao cuidado humano. Nestes encontros, trocam-se experiências, se fortalecem vínculos entre as pessoas, frequentemente premidas por urgências da sobrevivência e relações de trabalho.

A busca de si, a necessidade da pessoa ser o que ela é e não o que os outros desejam que seja, ouviu-se com ênfase na avaliação final dos cinco dias de vivência, da parte de muitos dos participantes. Outros, enfatizaram a necessidade de evitarem julgamentos na relação com os participantes das rodas de terapia e do público que atendem. Vivências como as do sol e da lua, do feminino e do masculino em cada um, mostraram a alguns e algumas, a importância do autoconhecimento das próprias fases e da realidade interna, para um agir de acordo com a própria natureza e não de maneira mecânica, técnica.

Chama a atenção, nestes eventos, a socialização e a partilha de saberes antigos, populares e cientificos, religiosos de variadas origens, amalgamados na reconstrução constante de uma humanidade mais aberta à pluralidade e ao respeito às diferenças, mais solidária, num esforço permanente de conhecimento pessoal e coletivo, nas bases da sociedade. É isto.

A pedagogia de Paulo Freire e a Terapia Comunitária

A pedagogia de Paulo Freire e a Terapia Comunitária partilham alguns princípios comuns que estão interconectados: A autonomia do sujeito, a horizontalidade do saber, a educação como prática libertadora, e a incompletude do ser humano.

O princípio da autonomia concebe o ser humano como autor do seu próprio destino, livre e responsável, construtor da sua própria circunstância e, portanto, autor das práticas capazes de reconduzi-lo ou reconduzi-la à liberdade em caso de dominação ou opressão.

A horizontalidade do saber supõe que todos sabemos, todos somos doutores na nossa própria vivência e a experiência de cada um é a fonte primeira do saber que nos permite eleger e viver.

A terapia comunitária parte deste princípio, unindo saber popular e científico, numa amálgama que reconstrói pessoas e comunidades no seu protagonsimo, rompendo com a cultura da vitimização e da miséria psíquica.

Na terapia comunitária, por outro lado, também se incorporam saberes de distintas vertentes de sabedoria da humanidade, como o conhecimento dos chakras como centros energéticos que nos conectam com o todo.

O caráter libertador da prática educativa supõe eu saber nos faz livres, e que podemos saber não acumulando conhecimento ou informação, mas nos apropriando da nossa própria experiência, nos tornando donos do que somos, donos de nós mesmos. Saber por que somos e como somos nos faz senhores da nossa vida e não vítimas das circunstâncias ou de algo ou alguém em quem projetamos um dominador ou um inimigo.

Na terapia comunitária, você descobre seu inimigo como um colaborador, alguém sem o qual você não seria quem é, já que ele lhe mostra o que você não quer ver, a parte sua que você rejeita.

Você busca dentro de si mesmo a razão de ser do que lhe acontece, ao invés de culpar os outros ou o destino ou Deus ou quem for, pelo que ocorre na sua vida.

Isto faz você forte, porque embora você esteja como todos estamos, em relação com outras pessoas, esta relação não o oprime mas o liberta. Você compreende que um mundo melhor se faz a partir do momento em que você se perdoa, se quer, se percebe como alguém bom vencedor, capaz de amar se ser amado, de errar e corrigir o rumo, alguém que está a caminho, sempre, nunca concluído.

Desta forma, você já não mais se julga vítima daquele trauma ocorrido na sua infância ou depois, na sua vida adulta.

A vida nos golpeia, todos sabemos, mas a capacidade de nos fortalecermos com esses golpes que teriam nos derrubado, a resiliência, é um saber a flor de pele no povo, nas classe populares, embora nem sempre a pessoa tenha noção disto, mas essa força reside nela e é ativada no encontro com outros vencedores, nas rodas da terapia, nas formações, onde ela descobre que sua vida é uma teia, a vida de todos é uma teia tecida em todas as direções, unindo o que foi e o que é, o que será, tudo está conectado.

E a mudança que processo em mim, melhora a vida de todo o que me rodeia e de que faço parte, incessantemente, continuamente, sem fim.

Essa noção de unidade plenifica e reconforta, repõe uma sensação de eternidade sem a qual o efêmero perde sua significação e seu sentido.

A terapia comunitária como ferramenta de mobilização social

Se entendermos a mobilização social como um processo de dissolução de barreiras que impedem a livre circulação e inserção de pessoas na sociedade como um todo, ou em alguma das suas sub-sociedades (famílias, bairros, comunidades, movimentos), podemos entender, como aqui esta dito, que a terapia comunitária seja uma estratégia de mobilização social.

Nela colaboram, lado a lado, pessoas humildes e doutores, estudantes e donas de casa, pessoas viciadas em drogas e crentes das igrejas mais variadas, com o objetivo comum de superarem juntos, os problemas mentais, emocionais e relacionais de todo ser humano.

Nas rodas de terapia, como diz o Prof. Adalberto Barreto, seu fundador, e a experiência comprova, os estudantes saram do autismo universitário, da miragem de um saber sem gente, de um conhecimento sem experiência. E as pessoas do meio popular colaboram com o que tem de mais próprio, seus valores originais, a sua generosidade, simplicidade, solidariedade, entre outros. Não partimos de uma visão idealizada dos pobres.

Um dos pilares da Terapia Comunitária, a pedagogia de Paulo Freire, afirma a autonomia dos sujeitos e a horizontalidade do saber. Isto é praticado a partir do momento em que você entra numa roda de terapia. Ninguém lhe pergunta sua profissão, embora você possa dizê-la. Mas quando alguém fala, os outros escutam. Todos e todas tem algo a dizer. Todas as histórias, os problemas, os sonhos, os anseios e ansiedades, são importantes. Ninguém dá conselhos nem interrompe quando os outros falam. Não há ninguém mais importante que os demais.

Todos se tocam, se abraçam, se trocam olhares e palavras de carinho, de afeto, de apoio, de compreensão.

Costumo dizer, e tenho ouvido outros e outras dizerem, que na terapia comunitária, você se torna terapeuta de si mesmo. Não há a pretensão de que o terapeuta cure ninguém. É a comunidade que cura. A sua comunidade interna e a externa. A que você é em si mesmo ou em si mesma, e a que você forma, faz parte, fora de você, na sua relação com os demais.

Quebra-se a dependência, você pode, os outros podem, todos juntos podemos mais. E se isto possa soar como algo ilusório ou pueril, você pode testar, de várias formas, a sua veracidade. Uma, participando de uma ou mais rodas de terapia. Outra, ouvindo alguém que já participou ou participa. E, ainda, tomando conhecimento do impacto que esta atividade vem mostrando em diversos municípios do Brasil, na criação ou reforço de redes solidárias, estimulando o aumento da auto-estima de pessoas e comunidades, promovendo a reintegração de ex-dependentes de álcool ou outras drogas ilícitas, mobilizando coletivos das periferias urbanas e de nichos de classe média das cidades, que, aos poucos, mas evidentemente, começam a sair do imobilismo e da apatia, da resignação e da manipulação externa, para serem, cada vez mais, pessoas e comunidades, agentes ativos da sua vida e do seu destino.

Participação social

O tema da participação social há muito tempo tem transbordado os âmbitos acadêmicos e/ou tecnocráticos dos governos e entidades de pesquisa, para se tornar, cada vez mais assunto do dia a dia, do cotidiano das pessoas e instituições. No caso concreto do Brasil, há já várias iniciativas que vem, como a Terapia Comunitária Integrativa e Sistêmica do Prof. Adalberto Barreto, ganhando espaços na construção e reforço de laços sociais, agregando pessoas e comunidades, em sentido contrário ao produzido pelas tendências dissociadoras e anomizantes do mercado.

Na ética cotidiana de pessoas e comunidades, de gestores em saúde e ambientes acadêmicos e de mobilização social, as relações cada vez mais são permeadas por valores solidários, pela recuperação e fortalecimento das identidades pessoas e sociais, reforçando instituições e indivíduos numa marcha silenciosa mas eficiente. Se isto pode parecer idílico ou sonhador, não sabemos, mas o certo é que, pela base da sociedade brasileira, este e outros movimentos, como o da Teologia da Libertação e a Educação Popular de molde freireano, vêm ganhando espaço de forma animadora.

Os valores cotidianos, que apreciam entregues ao imediatismo e ao pragmatismo utilitário bem ao gosto do capitalismo diário, cedem espaço para o interesse pelo outro, pela ajuda mútua em várias modalidades. Isto permite conjecturar que, em não muitos anos, várias das lacunas de participação no Brasil possam estar fechadas ou em vias de fechamento. A educação em expansão em moldes integrativos, com programas como o da Universidade Aberta; o crescente interesse e participação de pessoas de todas as idades em atividades voluntárias de várias tonalidades e formatos, vão construindo, com outras inciativas nos terrenos da arte e da cultura, da dança e da música, do artesanato, e da reciclagem de resíduos, ume perspectiva de coesão e de participação social impensável pouco tempo atrás.

O analfabetismo, a expulsão dos pequenos agricultores das terras nos interiores, o desemprego e o subemprego, a subremuneração e a exclusão social que em grande medida ainda prevalecem no País, cedem terreno, como dissemos, em escalas não pequenas, a estas ações concretas que pontuamos, visando a construção de um tecido social mais firme e unido.

Os valores na formação do terapeuta comunitário

Na terapia comunitária, a pessoa se reencontra com o que ela é, com seu ser mais profundo. Quando você começa a participar das rodas da terapia, você percebe que não está só nem isolado, que a sua história não está solta nem você desgarrado. A sua vinda para a cidade, se você veio do interior ou de outro estado ou, ainda, de outro país, é um caminho que muitas pessoas na roda fizeram. Aos poucos, você vai se sentindo mais coeso, mais integrado, mais parte de um todo. Esse todo é você mesmo, a pessoa que você é. A soma de pequenos e não tão pequenos atos e decisões, fatos da sua família e do seu povo, da sua cultura e das situações que você passou para chegar aonde está, para vir a ser quem você é.

Como foi escolhido o seu nome, qual dos filhos ou filhas da sua família você é, como foi o seu nascimento, todos são fatos que compõem essa diversidade conflitante ou não, em movimento, em perpétua reorganização, que cada um de nós é, que todas as pessoas são. Na formação como terapeuta comunitário, cada um de nós da um mergulho profundo na sua história, nas suas raízes, na caminhada que o fez chegar a ser quem é e a estar aonde está.

Muitas vezes na primeira roda, a primeira vez que comparece a uma terapia comunitária, a pessoa descobre que ela não é a única que sofre dessa dor ou que passa por essa dificuldade que lhe tira o sono, que a faz sentir alguém sem um lugar. Na primeira intervisão dos terapeutas comunitários formados em Salto, Uruguay, em novembro de 2009, tive a oportunidade de ouvir a história de um homem que entrou na roda da terapia comunitária, na sua cadeira de rodas, e saiu aliviado, dizendo: “Eu achava que eu fosse o único”.

Quando você descobre que a sua dor não é a maior do mundo, que a sua perda, a dor que você acarretou durante anos, o não gostar de si mesmo ou de si mesma, que lhe foi inculcado por circunstâncias que você aprende a decodificar e compreender, ou por situações perante as quais você foi forçado a se submeter sem poder reagir para preservar a sua identidade, você começa a fazer o caminho de volta.

Se diz que a terapia comunitária é integrativa e sistêmica. Integrativa, porque a pessoa passa se perceber como uma unidade, não mais como um pedaço ou fragmento. Sistêmica, porque a sua vida, a sua história, as coisas em que cada um de nós crê e que nos dão razão e sentido para viver, são comuns a um povo e a uma cultura. Na formação do mesmo grupo de terapeutas comunitários do Uruguay, em julho de 2009, tive a oportunidade de intervir, com os conteúdos sobre "os valores na formação do terapeuta comunitário". Lembro como se fosse agora, as expressões nos rostos dos participantes da formação. A alegria de se saberem partes de uma história, descobridores e descobridoras de si mesmos.

Na ocasião, entre outras coisas, se falava do lugar e do papel de cada um e de cada uma na vida, o lugar que cada um e cada uma ocupam, lugar insubstituível. Em outra formação, no interior da Paraíba, na cidade de Souza, uma formanda expressava com veemência: Eu sou o que eu sou, e não o que os outros querem que eu seja. Essa expressão, seu profundo significado, vão trazendo você de volta.

Quando fui para o Uruguay em 2005 pela primeira vez, participei de uma sensibilizaçaão em terapia comunitária na Universidad de la República, na Faculdade de Enfermagem. Nessa oportunidade, por primeira vez na minha vida me encontrei com um grupo de pessoas que tinham sobrevivido, como eu, a uma ditadura. Ouvia as histórias de todos e de todas, e aos poucos a minha história foi ganhando um outro significado, uma outra solidez e consistência.

Isto ocorre nas rodas da terapia. Na história do outro, me reconheço. Essa história evoca a minha própria história. É o que se chama de escuta ativa, uma das ferramentas do terapeuta comunitário. E vou deixando por aqui, na expectativa de ter atiçado a sua curiosidade, querido leitor ou leitora, para vir a fazer parte dessa roda, caso já não o faça.

Auto-conhecimento

Conheça a você mesmo, dizem que estava escrito no pórtico do Oráculo de Delfos. Muitas vezes ao longo da vida, somos levados a acumularmos saber sobre outros, sobre outras coisas, sobre coisas que não dizem respeito ao saber de si, ao saber sobre nós mesmos. Quem conhece os demais é inteligente, diz o Tão Te King, o livro chinês escrito por Lao Tsé, quem conhece a si mesmo é sábio. O saber de nós mesmos nos remete para o singular, para essa individualidade única e irrepetível que somos cada um de nós. Quando eu me conheço, separo o que não se me aplica, e fico com o que é meu. Sempre deverei estar fazendo isto, pois estarei cercado, como estive até aqui, ao longo da minha vida, de gente que dizia e diz saber muito de mim, sem saber. Quando começo a me conhecer, como diz o aforisma oracular citado no começo destas linhas, começo a respirar fundo, me defronto com uma realidade singular, esta do ser que eu sou. Eu não sou um ser genérico, nem você é. Ninguém é um ser genérico, somos todos criaturas únicas e singulares, irrepetíveis. No entanto, funcionamos como se devêssemos constantemente obedecer a padrões alheios, externos, que não se aplicam a nós mesmos, pois são fruto de generalizações. Um escritor escreve o script da sua própria vida. Nos seus escritos, ele ou ela vai se tornando o artífice dos seus próprios atos, do seu próprio ser, que vai se revelando nos seus dizeres, nas palavras que dele ou dela saem. Assim, aos poucos, ele ou ela, vão se tornando cada vez mais quem são, esse ser sem irrepetível que cada um de nós é. Então, você ira sabendo como é sua forma de pensar, e não a que lhe dizeram que você tinha. Você ira sabendo o que quer, e não o que cria querer. Aos poucos, muito lenta mas claramente, de forma muito definida, você irá jogando fora o que não lhe pertence, para ficar com aquilo único que sempre lhe pertenceu.

A terapia comunitária como ferramenta de inclusão social

Nos dias de hoje, muito se ouve falar sobre inclusão social. Para quem, como eu, tem estudado a marginalidade social desde pontos de vista sociológicos, o conceito de inclusão social remete a uma integração de setores marginalizados no quadro da estrutura social vigente.

No contexto destas breves reflexões que hoje quero partilhar com vocês, a inclusão social tem um aspecto de integração da personalidade e integração na sociedade.

Nas rodas da terapia comunitária, que é chamada de integrativa e sistêmica, as pessoas passam a perceber a unidade das suas vidas, o fio condutor que costura, unificando, os fatos primeiros e derradeiros das suas vidas. Isto ocorre de várias formas.

A história pessoal de cada um e de cada uma vem a tona, e se emparenta com as histórias de vida dos outros presentes. A saída da roça ou da cidade pequena para a grande cidade, para a periferia urbana, com a conseqüente sensação de perda de identidade, são sentimentos comuns aos migrantes no Brasil e em qualquer parte do mundo.

Mudam os costumes, deixo de ser alguém inserido numa trama de relações habituais, para passar a ser algo estranho, um desenraizado, uma alma penada, como diz Adalberto Barreto em “As dores da alma dos excluídos no Brasil”. Quando passo a fazer parte da roda da terapia, começa a se costurar a minha própria história, ela ganha coerência e consistência. Já não sou mais um João ninguém.

Outros pronunciam meu nome uma vez à semana, ao menos. São lembrados os aniversários, canta-se e dança-se juntos. Muitas donas de casa que não saiam das suas casas, vêem outras pessoas, sorriem, encontram um sentido maior no seu viver, do que meramente atenderem marido e filhos que, muitas vezes, tem suas próprias vidas à margem da delas.

Aposentados que apenas viviam à espera da morte, recuperam a alegria de viver, brincam, contam chistes, dançam nas rodas e entoam orações com crianças, com jovens, com estudantes e doutores da universidade e técnicos em saúde, agentes comunitários, etc. A integração funciona para todos, para os de baixo e os do meio, na verdade, uns e outros geram uma mandala giratória, em que ninguém sabe quem é o outro.

Apenas um igual, alguém que como eu se perdeu ou se perde ainda, e se reencontra. Assim, a inclusão funciona para dentro e para fora da pessoa. Eu me incluo na medida em que me sinto incluído numa história comum, numa fala comum em que me reconheço. Neste sentido, inclusão e integração, funcionam quase como sinônimos.

Os estudantes e doutores, médicos e professores, por sua vez, quebram a barreira do isolamento que a educação superior produz com freqüência, e se redescobrem gente, apenas gente. Nestas rodas, se processam momentos de encontro das pessoas consigo mesmas, motivo pelo qual pode se dizer, como conclusão destas breves considerações, que a terapia comunitária é uma ferramenta de inclusão social.

Terapia Comunitária no Uruguay

Entre os dias 9 e 10 de abril DE 2010, realizou-se em Montevideo, Uruguay, a segunda intervisão do primeiro grupo de terapeutas comunitários formados na América Hispânica. O encontro contou com a participação de 15 terapeutas formados em Paysandú em 2009, e mais a presença de pessoas interessadas em conhecer a terapia comunitária. Conversou-se sobre as dificuldades encontradas na prática, e se refletiu sobre as razões para que cada um se mantivesse na terapia comunitária. Esta reflexão mostrou, nas explicitações de cada um, a estreita relação entre esta atividade de recuperação da pessoa humana, e a história pessoal de cada um. Uma das terapeutas falou da atividade realizada com jovens de rua viciados em drogas. A professora Maria Filha, da UFPB, ressaltou a importância do auto-conhecimento no exercício da terapia. Uma roda de terapia comunitária foi realizada com os presentes, com a condução da professora Silvia Meliá, de UDELAR, Luz Vázquez e Aracely Otarola. O encontro foi realizado nas instalações da Facultad de Enfermería da Universidad de la República.

sábado, 8 de maio de 2010

Terapia Comunitária no Uruguay

Entre os dias 9 e 10 de abril, foi realizada em Montevideo, Uruguay, a segunda intervisão do primeiro grupo de terapeutas comunitários formados na América Hispânica. O encontro contou com a participação de 15 terapeutas formados em Paysandú em 2009, e mais a presença de pessoas interessadas em conhecer a terapia comunitária. Conversou-se sobre as dificuldades encontradas na prática, e se refletiu sobre as razões para que cada um se mantivesse na terapia comunitária. Esta reflexão mostrou, nas explicitações de cada um, a estreita relação entre esta atividade de recuperação da pessoa humana, e a história pessoal de cada um. Uma das terapeutas falou da atividade realizada com jovens de rua viciados em drogas. A professora Maria Filha, da UFPB, ressaltou a importância do auto-conhecimento no exercício da terapia. Uma roda de terapia comunitária foi realizada com os presentes, com a condução da professora Silvia Meliá, de UDELAR, Luz Vázquez e Aracely Otarola. O encontro foi realizado nas instalações da Facultad de Enfermería da Universidad de la República.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

El proceso de procesar al proceso

A veces la gente me pregunta por qué sigo escribiendo sobre el proceso. Si eso ya pasó, si a mí no me hicieron nada. Yo entiendo la pregunta, pues es gente querida la que me la hace, familiares, amigos. Ha sido un largo camino, ajustar las cuentas con el proceso. Desde la auto-tortura, allá por los años de 1978 en adelante, hasta 1996, en que decidí volver. No decidí volver solo, ni volví solo. Empecé a volver, a dejar de torturarme con la culpa de haber sobrevivido y empezar a darme cuenta de que había una vida aquí y ahora exigiéndome respuestas, pidiéndome que diera cuenta del milagro de haber sobrevivido. De a poco, y con la ayuda de muchos y de muchas, empecé a volver. El camino es lento, pero se puede. Digo estas cosas pues vuelvo de la Argentina después de una estadía de 20 días, y me doy cuenta de que el proceso de procesar al proceso es una tarea contínua, colectiva, interminable. Yo quiero agradecer a tanta gente que me recibió en Brasil en 1977 y a quienes, en Argentina y Brasil, me fueron dando pistas para digerir el proceso. Saber qué había sido aquello. No diré nombres, pues la lista sería injusta, por las omisiones. Pero en mi corazón agradezco contínuamente a todas aquellas personas que me ayudaron a seguir creyendo en la vida, en el amor, en la honestidad, en la esperanza, la justicia, el bien, la nobleza, la verdad, la caridad, todo aquello que el proceso vino a destruír. Agradezco porque cada día que pasa me pone más lejos de aquellos tiempos oscuros, tiempos que ninguno de nosotros gustaría de haber vivido. Cada segundo que pasa estamos todos más distantes de la felonía nazi que se enseñoreó en la Argentina entre 1976 y 1983. Un día, no habrá más recuerdo de la barbarie. Habrá desaparecido en el olvido, habrá otra vez la inocencia.