quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Ponte Fortaleza – Grenoble

José Maria Tavares de Andrade*

Este início de ano vai ficar na história das relações Norte/Sul pelo sucesso da Ponte Fortaleza – Grenoble. O avanço dos intercâmbios entre estas duas municipalidades vem espalhando a Terapia Comunitária com o fogo no monturo, não só em Grenoble e Marseille, como na Suíça e outros países da Europa e da África. Não se trata de uma ponte aérea, nem de uma linha vermelha, pois não contamos com vôos diretos nem freqüentes entre os nortistas do hemisfério Sul e os sulistas franceses.

Para chegarmos a Grenoble, cidade de 300 mil habitantes, aterrissamos no aeroporto de Lion e até encontramos nosso amigos, fizemos mais 100 km ao Sul, em 28 minutos apenas de trem, saindo da estação Lyon Part Dieu - que quer dizer a parte de Deus, ou seja, o de comer dos pobres. Em Grenoble estamos a 300 Km do Mediterrâneo, a 500 de Paris e de Strasbourg.

Nesta região de tradição religiosa e revolucionária – onde nasceu a Revolução francesa - os nativos resistiram à águia do imperialismo romano que derrubou os templos celtas dizendo-se até hoje que os gauleses analfabetos temiam que caíssem em suas cabeças pedaços de céu velho. Em Lion vemos ainda o teatro romano onde os leões trazidos de Roma comiam os perdedores vivos. Com o Cristianismo o sacrifício não é mais sangrento, e com a 'modernagem', os espetáculos de massa são menos violentos, tanto na terra de Zidane que no país de Ronaldinho, de Pelé, de velhos carnavais e novas novelas. De Lion partiram para o novo mundo missionários de muitas ordens religiosas e foi de Lion que partiu o Espiritismo de Alan Kardec para alimentar os sincretismo na religiosidade popular. O Brasil que ainda forja seus deuses e exporta suas novas religiões, além de matérias primas.

Hoje a região importa a Terapia Comunitária do Dr. Adalberto Barreto. Neste outro lado do Atlântico tivemos que rebatizar esta inovação e avanço na saúde pública, pois as duas palavras – "terapia" e "comunitária" – fazem medo aos europeus. "Terapia" é coisa só para doutor, ou seja monopólio de um saber legítimo de uma medicina que ela mesma está doente e intoxicando os pacientes que não têm mais paciência. E "comunitária" aqui evoca a doença política do "comunitarismo", ou seja de sectarismos ou mesmo de terrorismo. Estamos chamando aqui este novo saber- fazer do trabalho de grupo, centrado na pessoa, como forma de nova socialização, um santo remédio para combater o individualismo moderno de grupo de escuta, palavra e laço ("lien").

Esta ponte Fortaleza – Grenoble é uma prova que outra globalização é possível, quando experiências de solidariedade nascidas nas favelas de Fortaleza são exportadas para o primeiro mundo. Quando a Sociedade civil planetária (SOCIPLA) assume seu papel entre os dois outros atores históricos Estado e Capital a história avança. A SOCIPLA segurando com a mão esquerda o Estado e seus serviços públicos e com a mão da direita a força bruta do capital selvagem e sua responsabilidades sociais o projeto da humanidade avança.

Esta ponte Norte/Sul foi montada por Associações dos dois lados do Atlântico: O Projeto Quatro Varas de Fortaleza e a Associação dos amigos do Projeto Quatro Varas de Grenoble. A Terapia Comunitária do Prof. Adalberto Barreto chegou à França articulando os serviços públicos de saúdes com ONG. Esta ação conjunta dos serviços públicos universitários e municipais com Associações ou ONG formam o que chamamos de corpo intermediário. O que deu certo no Ceará está dando certo no velho continente.
A Prefeitura de Fortaleza, parceira do Projeto Quadro Varas, assume a nova metodologia social, nascida do trabalho de base da Extensão universitária, com a farmácia viva do Dr. Mattos, do teatro educativo e das velhas técnicas de massagens. Estas novas formas de serviços públicos – liturgias em grego – nascida no engajamento comunitário, na extensão universitária, na Educação Popular que vem rearticulando o saber fazer popular com a C&T mais moderna.

Na delegação de Fortaleza vieram líderes populares que nunca foram à Escola, como Dona Zilma, a rezadeira e Seu Zequinha do movimento de articulação cidadã, na luta pela volta do trem. Eles dois co-fundadores da terapia comunitária, faz vinte anos, deram um show em Grenoble, em seu trabalho de intercâmbio Norte / Sul, tanto em auditórios cheios como em pequenos grupos institucionais. Nesta delegação, além de Dr. Adalberto Barreto estava o próprio Secretário Municipal de Saúde, Prof. Dr. Odorico de Andrade que veio trazer a boa nova do casamento entre serviços públicos e organizações populares, entre o saber-fazer popular e a Ciência & Tecnologia. Esta utopia política que nos alimenta a esperança de menos injustiça e mais democracia nas instituições no Norte e do Sul.

Da França para Fortaleza os amigos do Projeto 4 Varas levam avanços no saber fazer da saúde pública, como as massagens para crianças e as técnicas de espetáculos educativos. Esta ponte não é de hoje ela está festejando hoje seus 15 anos e está exportando para outros países esta criatividade da Terapia comunitária, centrada na escuta das pessoas que sofrem, na democrática do uso da palavra e na criação de novas laços de solidariedade que liberta o cidadão do individualismo, moderno que está matando gente de frio neste capitalismo selvagem.

*http://ethnopharma.free.fr/brazil.htm - zeandrade@ifrance.com
http://ethnopharma.free.fr/brazil.htm - zeandrade@ifrance.com

Nenhum comentário: