terça-feira, 16 de dezembro de 2008

ENSP/FIOCRUZ E TERAPIA COMUNITÁRIA

"Terapia Comunitária integra política do Ministério da Saúde - 12/12/008

Aplicada pela ENSP, desde 2006, a grupos de agentes comunitários, mulheres e jovens de comunidades do entorno da Fiocruz, a técnica de Terapia Comunitária integra, a partir de 2008, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), do Departamento de Atenção Básica, do Ministério da Saúde. Este ano, além de oferecer as rodas de Terapia Comunitária, a equipe do Observatório de Processos Endêmicos e Redes de Cuidado à Saúde do Departamento de Endemias Samuel Pessoa (Densp/ENSP), em parceria com o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF/ENSP), está envolvida na constituição, no nível da Fiocruz, de um Pólo de Formação desta técnica de trabalho, voltado principalmente para profissionais de saúde, educação, assistentes sociais e lideranças comunitárias. No segundo semestre de 2009, a ENSP começa a oferecer a disciplina "Redes Sociais e Cuidado à Saúde” no âmbito da pós-graduação, dentro da subárea “Processo Saúde-doença, Território e Justiça! Social”. A disciplina será coordenada pela pesquisadora visitante Maria Beatriz Lisboa Guimarães e pelo professor Victor Valla (Densp/ENSP). A seguir, Maria Beatriz explica os fundamentos da técnica e sua adoção na ENSP/Fiocruz.
Informe ENSP: O que é Terapia Comunitária?
Maria Beatriz Lisboa Guimarães: A Terapia Comunitária (TC) é uma técnica de trabalho com grupos para prevenção e promoção da saúde. Foi elaborada e desenvolvida pelo psiquiatra Adalberto Barreto, da Universidade Federal do Ceará. Trata-se de uma prática de cuidado em saúde que se propõe a acolher o sofrimento dos sujeitos por meio da constituição de espaços de troca, palavra e vínculo. Nesse espaço de intervenção, o foco é o sofrimento e não a doença. Acredita-se que as soluções possam vir do coletivo, nas identificações com o outro e no respeito às diferenças. A partir do relat! o, da escuta atenta e da expressão dos conteúdos emocionais, o! s sofrim entos podem ser ressignificados. Os terapeutas comunitários atuam como mediadores, procurando estimular e favorecer a partilha de experiências de vida, no sentido de realçar e valorizar o saber produzido pela vivência de cada um. Isso possibilita a construção de redes de apoio social, na medida em que o grupo se apropria das qualidades e forças que já existem em potência nas relações sociais, o que torna os indivíduos e a comunidade mais autônomos.
Informe ENSP: Quando e por que a Terapia Comunitária passou a ser política pública?
Maria Beatriz Lisboa Guimarães: A Terapia Comunitária virou política pública de saúde, em nível federal, a partir de 2008, quando passou a integrar a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde. A rede de Terapia Comunitária no Brasil tem atuado nas áreas de saúde, educação e segurança pública. Agora, conta com 30 pólos formadores, 11.! 500 terapeutas treinados, mais de 575 mil rodas de TC e mais de 8,6 milhões de atendimentos realizados. Atualmente, o Ministério da Saúde está financiando a formação de 15 turmas, com uma média de 70 alunos cada, em diferentes estados do Brasil.
Informe ENSP: Qual é a avaliação que pode ser feita dessa técnica?
Maria Beatriz Lisboa Guimarães: A avaliação que se pode fazer da Terapia Comunitária, após 21 anos de aplicação, é que ela se constitui em um instrumento valioso de intervenção psicossocial na saúde pública, que não pretende substituir outros serviços de saúde, mas complementá-los, de modo a ampliar as ações preventivas e promocionais. O sofrimento, por sua natureza subjetiva, tende a não ter espaço de acolhimento na atenção básica dos serviços públicos de saúde. Entretanto, causa incapacidades e leva ao aumento da demanda de atenção médica. A TC funciona como uma primeira instância de atenção básica, porque acolhe, escuta e cuida dos! sujeitos e de seus sofrimentos e, desse modo, possibilita dir! ecionar melhor as demandas. Com isso, permite que só afluam para os níveis secundários de atendimento situações que, devido à sua complexidade, exigem a intervenção complementar do especialista. Isso pode ser comprovado por meio dos dados obtidos em uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), junto com a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) e o Movimento Integrado de Saúde Mental Comunitária do Ceará (MISMEC-CE), nos anos de 2005 e 2006, para a qual foram coletados dados relativos a 12 mil questionários que mostram que apenas 11,5% das pessoas que freqüentaram as rodas de TC necessitaram de encaminhamento para os serviços de saúde; 88,5% dos sofrimentos e dificuldades apresentados nas rodas encontraram solução na própria Terapia Comunitária.
Informe ENSP: A técnica é aplicada na ENSP desde quando?
Maria Beatriz Lisboa Guimarães: A Terapia Comunitária na Fiocruz faz parte do Observatório de Processos Endêmicos e R! edes de Cuidado à Saúde do Departamento de Endemias Samuel Pessoa, em parceria com o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria da ENSP. Atualmente, é um dos projetos apoiados pela Coordenação de Projetos Sociais da Fiocruz. Desde meados de 2006, são oferecidas rodas de Terapia Comunitária para diversos públicos, dentre eles, agentes comunitários de saúde, mulheres, jovens - de comunidades do entorno da Fiocruz -, além de profissionais de saúde e educação de diversas instituições e localidades do Rio de Janeiro.
Informe ENSP: Quais são as perspectivas de consolidação da técnica na ENSP/Fiocruz?
Maria Beatriz Lisboa Guimarães: Este ano, além de oferecer as rodas de Terapia Comunitária, a equipe esteve envolvida em constituir, na Fiocruz, um Pólo de Formação nessa técnica de trabalho, voltado principalmente para profissionais de saúde, educação, assistentes sociais e lideranças comunitárias. A constituição de um curso de formação em Terapi! a Comunitária, ainda em implementação, tem sua relevância tant! o no sen tido de atuar no campo da promoção da saúde – acolhendo e ressignificando o sofrimento dos sujeitos e grupos sociais – quanto no seu potencial multiplicador. No âmbito da pós-graduação da ENSP, inserida na subárea “Processo Saúde-doença, Território e Justiça Social”, foi criada a disciplina “Redes Sociais e Cuidado à Saúde”, que será oferecida no segundo semestre de 2009 sob minha responsabilidade e do professor Victor Valla, em que se buscará refletir acerca do papel das redes sociais no cuidado ao sofrimento no âmbito da saúde coletiva e apresentar a Terapia Comunitária como forma de cuidado à saúde."
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